A religião está viva e presente. É teimosa, insistente.
A sociedade ocidental, que tem suas bases culturais alicerçadas na cultura judaico-cristã, viveu nos último 50 anos transformações significativas na área tecnológica, porém, não conseguiu fechar as portas para o religioso. Ainda que o cenário tenha mudado em diversos aspectos para a vivência da religião, em especial o cristianismo, a religiosidade ainda é uma força que se mantém dentro das nossas diversificadas culturas.
No fim do século 19 e início do 20, levantou-se a hipótese de que o ser humano e suas civilizações, com a aplicação da razão, alcançaria a maturidade que conduziria a um processo independente em suas bases sociais. A extinção da religião era uma das consequências mais aceitas desse processo de amadurecimento da independência cultural e social. Podemos dizer que, de certa forma, essas predições se concretizaram e a autonomia foi alcançada. Também se tentou a independência de suas instituições, entre elas as instituições religiosas. Porém, a realidade é que as religiões se mostraram como um elemento de fortalecimento das massas. Assim, o elemento “religião” não apenas permaneceu, mas, atrevo-me dizer, fortaleceu-se.
Como lidar como essa força que extrapola as fronteiras dos templos e espaços sagrados para ganhar a importância de uma das maiores, senão a maior formadora de opiniões da sociedade moderna?
Na modernidade, da qual somos pertencentes, percebe-se que a religião, em suas muitas vertentes, expandiu-se para muitos caminhos. Sendo ou não religiosos ou religiosas, o fato é que existimos em uma sociedade em que o fenômeno religioso é presente. Convivemos diariamente com seus temas e praticantes, muitas vezes polêmicos e apaixonados. Portanto, temos questões a serem resolvidas. Podemos entrar em conflito direto com a religião ou dialogarmos com ela e por meio dela para compreendermos nossa própria existência como indivíduos sociais. A proposta que abro é a do diálogo. Partindo do pressuposto de que um objeto nem sempre é maléfico por si só, mas que o uso que se faz dele é que pode torná-lo tóxico, entendo que o fenômeno religioso é uma condição que pode ser utilizada para dialogar e convergir para a paz e dignidade humana. A religião em sua base conceitual é um fenômeno que procura explicar o vazio existencial e o próprio sentido de existência. A chave da compreensão do fenômeno religioso está na construção de uma hermenêutica que se materialize na convivência inclusiva e comprometida com valores éticos que beneficiem as relações humanas e com o ambiente. As formas de recepção e leitura que se faz dos elementos culturais que circulam o drama existencial humano podem ser os diferenciais de uma convivência relativamente harmoniosa com uma sociedade que se alimenta do fenômeno religioso, queira-se isso ou não.
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